quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Da poesia

Todas as árvores me lembram que sou poeta.

Conto breve

"Eu quero, posso e mando", afirmou o romancista ao seu interlocutor. "Nos meus livros, sou Deus. Se eu quiser que uma personagem voe, ela voa mesmo, venha lá quem vier. Foi, de resto, uma das razões para eu ter querido ser escritor". Disse isto e, perante o olhar incrédulo do entrevistador, levantou voo, a caminho de outra história.

Entre o céu e a terra

Entre o Céu e a Terra, de Rui Chafes é um dos melhores livros que li nos últimos tempos. Resumindo, diria que se trata da obra de um homem que aprendeu a lidar com os seus limites, com os limites da matéria (é escultor) e a "transformar esses limites numa marca da passagem do sopro que transforma o peso da matéria na leveza do espirito". De um homem que aceita as imperfeições do real com a mesma voracidade com que devora as suas ânsias.
Dividido em duas partes, o livro começa por propor uma autobiografia (ficcionada, mas verdadeira), seguindo-se uma série de fragmentos e aforismos à maneira de Novais, onde se fala, por exemplo, do "suave medo do escuro" e da "barreira que nos isola dos outros".
Entre o Céu e a Terra é um livro impregnado pelo "sentido do sagrado" onde um artista se confessa e se confronta consigo mesmo, sabendo que "não existe nenhum prémio, nenhuma recompensa".
No final, o autor ainda encontra tempo para nos falar, com rara inteligência, sobre poesia. Diz ele: "O sentido poético (...) é o que nos permite agir sobre o mundo mediante uma deslocação, por vezes mínima, de sentido ou de ponto de vista". E, mais adiante: "A poesia não é uma outra linguagem, é, sobretudo, um outro olhar".
Rui Chafes encerra o livro com estas palavras: "As buganvílias quando fenecem e se apagam lentamente, libertam, no exacto momento em que a sua luz se extingue, um suave odor a rapariga adormecida na madrugada".

P.S. - A fotografia de Rui Chafes foi publicada na revista Up

Ghost of a chance

A poesia é o mais esquivo dos sonhos

Do silêncio

Um anjo por cada demónio. Já não seria mau.

Don't be mean

Passei a manhã no café
escrevendo sem descanso.
Levantando a poeira
de palavras assustadas,
para alimentar poemas
que acabaram no lixo

Lisboa

Outros olhos dirão o que se esconde aqui

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